Em meados do século IX, um jovem chamado Miguel III assumiu
o trono do Império Bizantino. Sua mãe, a imperatriz Teodora, fora para um
convento, e seu amante, Teoctisto, assassinado; encabeçando a conspiração para
depor Teodora e colocar no trono Miguel estava o tio de Miguel, Bardas, homem
inteligente e ambicioso. Miguel era agora um jovem e inexperiente soberano,
rodeado de conspiradores, assassinos e devassos. Neste momento de perigo, ele
precisava de alguém em quem pudesse confiar para seu conselheiro, e pensou em
Basílio, seu melhor amigo. Basílio não tinha nenhuma experiência em governo e
política – de fato, ele era o chefe dos estábulos reais – mas tinha provado o
seu amor e gratidão diversas vezes.
Os dois
haviam se conhecido há poucos anos, quando Miguel estava visitando os estábulos
na hora em que um cavalo selvagem se soltou. Basílio, jovem cavalariço de uma
famílio de camponeses da Macedônia, salvou a vida de Miguel. A força e a
coragem do rapaz impressionaram Miguel, que imediatamente elevou Basílio da sua
função obscura de treinador de cavalos para a de chefe dos estábulos. Ele cobriu
o amigo de presentes e favores e os dois se tornaram inseparáveis. Basílio foi
mandado ara a melhor escola de Bizâncio, e o rude camponês se transformou num
cortesão culto e sofisticado.
Agora Miguel
era imperador e precisava de alguém fiel. A quem mais ele poderia confiar o
posto de camareiro-mor e conselheiro-chefe senão ao jovem que lhe devia tudo?
Basílio
poderia ser treinado para a função e Miguel o amava como um irmão. Ignorando os
conselhos de quem recomendava Bardas, muito mais qualificado, Miguel preferiu o
amigo.
Basílio
aprendeu bem e em breve estava aconselhando o imperador em tadas as questões de
Estado. O único problema parecia ser o dinheiro – Basílio nunca tinha o
suficiente. A exposição aos esplendores da corte bizantina o tornaram ávido
pelos privilégios do poder. Miguel dobrou, depois triplicou o seu salário,
deu-lhe um título de nobreza e o casou com sua própria amante, Eudóxia
Ingerina. Um amigo e conselheiro tão confiável valia qualquer preço. Mas os
problemas não pararam por aí. Bardas estava chefiando o exército, e Basílio
convenceu Miguel de que o homem era ambicioso demais. Com a ilusão de que
poderia controlar o sobrinho, Bardas havia conspirado para colocá-lo no trono,
e poderia conspirar novamente, desta vez para se livrar de Miguel e assumir ele
mesmo a coroa. Basílio destilou veneno nos ouvidos de Miguel até que o
imperador concordou em mandar assassinar o tio. Durante uma importante corrida
de cavalos, Basílio se acercou de Bardas no meio da multidão e motou-o com uma
punhalada. Logo depois, Basílio pediu para substituir Bardas no posto de chefe
do exército, de onde poderia controlar o reino e sufocar as rebeliões. Isso lhe
foi concedido.
Ora, o
poder e a riqueza de Basílio só aumentava e, passado algum tempo, Miguel, em
dificuldades financeiras por causa das suas próprias extravagância, pediu ao
amigo que lhe devolvesse parte do dinheiro que durante vários anos lhe
emprestara. Para espanto de Miguel, Basílio recusou com tamanha desfaçatez que
o imperador percebeu de repente a encrenca em que se metera: o ex-calariço
tinha mais dinheiro, mas aliados no exército e no senado e, no final, mais
poder do que o próprio imperador. Passadas algumas semanas, depois de uma
noitada bebendo muito, Miguel acordou cercado de soldados. Basílio ficou assistindo
enquanto eles matavam a punhaladas o imperador. E aí, proclamando-se imperador,
ele atravessou a cavalo as ruas de Bizâncio, brandindo a cabeça do seu
ex-benfeitor e melhor amigo espetada numa lança.
ROBERT GREENE – AS 48
LEIS DO PODER
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